O Brasil traz o título inédito de campeão do Mundial de atletismo ao terminar na primeira colocação do quadro geral de medalhas, em Nova Deli, na Índia
Os brasileiros subiram ao pódio todos os dias da competição em Nova Déli e lideraram o quadro geral de medalhas desde o primeiro dia de provas – único período do Mundial em que a primeira colocação foi dividida com a China. Só neste domingo, foram seis pódios, sendo três ouros, uma prata e dois bronzes.
Assim, o Brasil termina a competição com 15 ouros, 20 pratas e nove bronzes, com um total de 44 medalhas. Os chineses ficaram na segunda colocação, com 13 ouros, 22 pratas e 17 bronzes, sendo 52 no total.
Esta é somente a segunda vez na história em que a China perde no quadro de medalhas na competição – a primeira havia sido há 12 anos, em Lyon 2013, quando o país vencedor foi a Rússia — na ocasião, os chineses terminaram na sexta colocação. Na Índia, o Irã encerrou como o terceiro colocado, com nove ouros e 16 medalhas ao todo.
“Esse é o primeiro mundial do ciclo paralímpico para os Jogos de Los Angeles 2028. Quebramos o recorde do número de medalhas de ouro da modalidade e também superamos o total de medalhas conquistadas em Paris 2024. O Brasil já vem muito forte no primeiro ano do ciclo. […] O número de medalhas não surpreende por conta do trabalho que o CPB vem desenvolvendo, desde a iniciação até o alto rendimento, com os festivais paralímpicos em 120 cidades, atendendo mais de 40 mil crianças nas edições desse ano. Os meetings, que aconteceram por todo o Brasil, nas 27 unidades federativas, descobertas de novos atletas, os centros paralímpicos, que são hoje 86. O Brasil sai do eixo do sudeste e espalha o programa por todo o país. Isso vai continuar porque o pensamento não é só para 2028, mas para 2032 também”, analisou Yohansson Nascimento, vice-presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro.
O atletismo paralímpico brasileiro estava muito próximo de atingir tal feito histórico pois já figurava entre os principais colocados no quadro geral de medalhas nas últimas edições de Mundiais. Nas três últimas participações, em Kobe 2024, Paris 2023 e Dubai 2019, o país terminou na segunda colocação.
Até então, a melhor campanha brasileira em Mundiais havia acontecido em Kobe 2024. No Japão, a Seleção Brasileira terminou na segunda posição do quadro geral de medalhas, somente atrás da China. Foram 42 pódios no total, sendo 19 medalhas de ouro, 12 de prata e 11 de bronze. Esta foi a campanha mais dourada do país na história dos mundiais.
Já no Mundial de Paris 2023 o Brasil teve seu melhor desempenho em total de pódios na história, com 47 medalhas ao todo, sendo 14 ouros, 13 pratas e 20 bronzes. Naquela ocasião, o país terminou a competição com dois pódios a mais do que os chineses (47 a 45). No entanto, os brasileiros ficaram na vice-liderança do quadro geral de medalhas por uma diferença de dois ouros – foram 14 contra 16 (confira histórico ao término do texto).
Marca histórica e medalhas do dia
O último dia foi emocionante para os atletas do Brasil, que conseguiram novas marcas histórias, recordes e até uma medalha de ouro após o término da prova, sendo obtida no júri de arbitragem.
A acreana Jerusa Geber conquistou a sua segunda medalha de ouro na Índia ao vencer a prova dos 200m T11 (deficiência visual), com o tempo de 24s88, o seu melhor na temporada. Foi também o segundo ouro da velocista na disputa, após o primeiro lugar em Paris 2023.
De quebra, Jerusa se tornou a atleta brasileira, entre homens e mulheres, com maior quantidade de medalhas na história dos Mundiais. Ela atingiu a marca de 13 pódios na competição, sendo sete ouros, cinco pratas e um bronze, superando o recorde que era da mineira Terezinha Guilhermina, com 12 medalhas no total.
Outra brasileira envolvida na final, a potiguar Thalita Simplício obteve a medalha de bronze, com 25s97. Foi a décima medalha da atleta, que também foi tetracampeã nos 400m T11. Também foi a quarta dobradinha brasileira em pódios em Nova Déli. A medalhista de prata dos 200m foi a chinesa Liu Yiming, com 25s54.
“Estou muito feliz. Dois objetivos concluídos com sucesso: o tetra nos 100m e sair daqui como a atleta com maior número de medalhas em mundiais. Cheguei e estou saindo sem dor, sem lesão. […] É claro que eu quero [ir para Los Angeles 2028]. Eu quero o penta, o hexa [nos mundiais], quero tudo. Até onde aguentar, eu quero ir”, analisou Jerusa, após a vitória.
Ouro depois da prova
A potiguar Clara Daniele viveu uma situação inusitada logo na sua estreia em Mundiais ao ficar com a medalha de ouro na final dos 200m T12 (deficiência visual) após o término da prova. Durante a disputa, ela havia cruzado a linha de chegada na segunda colocação, com o tempo de 24s42, sua melhor marca na temporada. A vencedora havia sido a venezuelana Alejandra Paola Lopez, que fez 24s20.
No entanto, após a prova, a arbitragem analisou a corrida e observou que o atleta-guia da venezuelana puxou a competidora antes de cruzar a linha de chegada, o que não é permitido pela regra da competição. Assim, a vencedora foi desclassificada.
A Venezuela entrou com apelação, mas ela não foi aceita pelo júri de arbitragem do Mundial. Com isso, a velocista brasileira herdou a medalha de ouro, tornando-se campeã mundial logo na sua estreia em Mundiais. A prata ficou com a indiana Simran e o bronze, com a chinesa Shen Yaqin.
“Poderia ter sido melhor, mas não dá para reclamar. Ficamos com a prata. Dedico a Deus, ao meu pai, minha mãe e ao meu avô. […] Eu prometi que levaria uma medalha e estou levando para ele ver”, disse Clara Daniele logo após a prova, antes de saber da desclassificação da vencedora.
Mais medalhas e finais para o Brasil
Já a potiguar Maria Clara Augusto ganhou a medalha de prata na final dos 200m T47 (deficiência nos membros superiores), com o tempo de 24s77, o seu melhor na temporada – nas eliminatórias, ela havia feito 24s97, que era até então a sua prova mais rápida.
Foi o terceiro pódio da velocista de Natal (RN) em Nova Déli. Ela também obteve o ouro nos 400m e a prata nos 100m. Com isso, Maria Clara é a atleta do Brasil que mais subiu ao pódio neste Mundial.
A vencedora da prova foi a equatoriana Kiara Rodriguez, com 24s34, novo recorde mundial da disputa, enquanto a francesa Anna Grimaldi levou o bronze, com 24s82.
O catarinense Edenilson Floriani também subiu ao pódio neste domingo, 5, após levar a medalha de bronze no arremesso de peso F42/F63 (deficiência nos membros inferiores), com a marca de 14,96m, novo recorde das Américas – o índice anterior, de 14,93m, também era do brasileiro. O vencedor da prova foi Aled Davies, da Grã-Bretanha, com 16,44m, e a prata ficou com Faisal Sorour, do Kwait, com 16,28m.
Foi a segunda medalha de bronze de Edenilson em Nova Déli – também ficou na terceira colocação no lançamento de dardo.
Entre os outros brasileiros que competiram finais neste último dia em Nova Déli, o paraense Alan Fonteles terminou na quarta colocação dos 400m T62 (amputados de membros inferiores com prótese), com o tempo de 59s03. O medalhista de ouro da prova foi o alemão Johannes Floors, com 45s39.
Os gaúchos Wallison Fortes e Aser Ramos também não conseguiram finalizar o Mundial entre os medalhistas em suas provas. O primeiro terminou na quinta colocação dos 200m T64 (amputados de membros inferiores com prótese), com 22s79, enquanto o segundo também encerrou no quinto lugar do salto em distância T36 (paralisados cerebrais), com 5,70m.
Prata garantida no júri
O Brasil amanheceu neste domingo com o resultado favorável da apelação sobre o protesto em relação à medalha de prata do paulista Thiago Paulino na prova do arremesso de peso F57 (que competem sentados).
Isso porque o atleta de Orlândia (SP) havia conquistado a medalha de prata, com 14,82m, neste sábado, 4. Porém, após o término da prova, houve protesto em relação ao arremesso do brasileiro que valeu a marca, alegando que Thiago Paulino havia desencostado da cadeira na execução do movimento, o que é proibido pela regra da prova.
Mas, neste domingo, 5, a apelação sobre o resultado do protesto, feita pelo CPB, foi aceita pelo júri e, com isso, Thiago Paulino teve o resultado validado, mantendo-se na segunda colocação da prova.
Confira a posição final do Brasil nos últimos Mundiais de atletismo:
Nova Déli – 1º lugar (15 ouros, 20 pratas e 9 bronzes)
Kobe 2024 – 2º lugar (19 ouros, 12 pratas e 11 bronzes)
Paris 2023 – 2º lugar (14 ouros, 13 pratas e 20 bronzes)
Dubai 2019 – 2º lugar (14 ouros, 9 pratas e 16 bronzes)
Londres 2017 – 9º lugar (8 ouros, 7 pratas e 6 bronzes)
Doha 2015 – 7º lugar (8 ouros, 14 pratas e 13 bronzes)
Lyon 2013 – 3º lugar (16 ouros, 10 pratas e 14 bronzes)
Christchurch 2011 – 3º lugar (12 ouros, 10 pratas e 8 bronzes)
Assen 2006 – 19º lugar (4 ouros, 11 pratas e 10 bronzes)