A esgrima em cadeira de rodas está no programa dos Jogos Paralímpicos desde a primeira edição, em Roma 1960, e é uma modalidade das mais tradicionais do megaevento.
O Brasil tem duas medalhas paralímpicas na modalidade, ambas com o gaúcho Jovane Guissone, principal atleta da história do país no esporte. Aos 41 anos, ele disputará em Paris mais uma edição dos Jogos Paralímpicos e se mantém como candidato a levar o país de volta ao pódio.
Em Londres 2012, Jovane venceu a disputa pelo ouro na espada B (atletas com menor mobilidade no tronco e equilíbrio). Um ano antes havia sido o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha na esgrima em cadeira de rodas em um Mundial. Um bronze, também na espada B, em Montreal, no Canadá. A segunda medalha em Jogos Paralímpicos chegou em Tóquio 2020, com uma prata novamente na espada B.
Jovane teve uma lesão na medula aos 22 anos causada por disparo de arma de fogo durante um assalto, o que tirou sua mobilidade nas pernas. Três anos depois do ocorrido, passou a treinar esgrima em cadeira de rodas e se identificou com a modalidade.
“Nesses anos, desde Tóquio, tentei fazer a melhor preparação. Com certeza eu me sinto preparado e vou em busca dessa medalha de novo para o Brasil. Fiz uma boa campanha para chegar até aqui, conquistei medalhas, e se consegui me manter no pódio nesse ciclo, a preparação está dando certo”, disse Jovane.
Jovane teve o melhor resultado do Brasil neste ciclo. Foi medalha de ouro na Copa do Mundo realizada no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, em abril de 2022. Na decisão do florete B, o brasileiro derrotou o iraquiano Ammar Ali por 15 a 12.
“No início do ano teve uma mudança na minha equipe técnica, estou com um novo treinador (Marco Xavier), de muita qualidade também. Ele tem uma visão diferente, uma bagagem na esgrima, que foi muito importante para mim”, disse Jovane.
O programa de esgrima em cadeira de rodas nos Jogos Paralímpicos de Paris prevê as competições entre 3 e 7 de setembro.
Experiência em Paris
A equipe brasileira em Paris na esgrima em cadeira de rodas terá sete atletas, com quatro homens e três mulheres.
O gaúcho Vanderson Chaves, 30, vai para o seu terceiro Jogos Paralímpicos. Aos 12 anos, ele perdeu o movimento das pernas após um acidente causado por uma arma de fogo que atingiu sua medula.
A esgrima em cadeira de rodas entrou em sua vida em um estágio que fez na Prefeitura de Porto Alegre. Hoje, ele defende o Grêmio Náutico União, clube da capital do Rio Grande do Sul.
As enchentes que afetaram o Estado em maio deste ano deixaram Vanderson sem casa. Suas armas estavam no Náutico, mas ele perdeu material de trabalho, além de todos os móveis. A residência, um apartamento térreo no bairro Sarandi, um dos mais afetados pelo alagamento em Porto Alegre, ficou submersa.
Uma vaquinha virtual foi feita por amigos de Vanderson para ele poder recuperar parte dos móveis e materiais. Isso tudo aconteceu pouco antes de disputar o Regional das Américas, que definiu sua classificação para os Jogos Paralímpicos de Paris.
Vanderson tem como principais conquistas a prata no florete B no Campeonato das Américas, em 2016 e em 2018, e o bronze na espada B no Campeonato das Américas de 2016.
A esgrima em cadeira de rodas é destinada a atletas com deficiência locomotora. Ela surgiu em 1953 e foi aplicada originalmente pelo médico alemão Ludwig Guttmann, o pai do Movimento Paralímpico.
Praticada por pessoas com amputações, lesão medular ou paralisia cerebral, a esgrima em cadeira de rodas é disputada em três tipos de armas.
Nas provas de florete, pontua quem tocar a ponta da lâmina no tronco do rival. Na espada, faz o ponto quem toca a ponta da arma em qualquer parte acima da cintura do rival. Já no sabre, qualquer toque com qualquer parte da lâmina acima do quadril do adversário vale ponto.
O Brasil será representado por 280 atletas, sendo 255 com deficiência, de 20 modalidades nos Jogos Paralímpicos de Paris 2024. É a maior delegação brasileira já anunciada para uma edição dos Jogos fora do Brasil.
Antes, a maior equipe nacional era de 259 convocados ao todo em Tóquio 2020. Já o recorde de participantes do país foi nos Jogos do Rio 2016, ocasião em que o Brasil sediou o megaevento e contou com 278 atletas com deficiência em todas as 22 modalidades já classificadas automaticamente.
Os Jogos Paralímpicos de Paris começam em 28 de agosto, com encerramento marcado para 8 de setembro.