Gestora de projetos esportivos, ela tem no currículo participação em Olimpíadas, Copa do Mundo Feminina e Copa América
Os esportes são mais do que atividade física: são formas de expressão cultural que nos emocionam e ensinam cidadania, comprometimento e respeito. No entanto, o mundo ainda reflete preconceitos da sociedade, especialmente o machismo.
Historicamente, mulheres tiveram seu acesso ao esporte negado. No Brasil, o futebol feminino foi proibido durante o Estado Novo, impossibilitando a modalidade por 40 anos. A participação feminina em eventos esportivos, assim, tem um valor simbólico: demonstrando competência e resistência ao ocupar espaços anteriormente negados.
Apesar do crescimento da participação feminina, a resistência à mudança persiste. O estudo “As Mulheres em Modalidades Esportivas Coletivas: Um Panorama dos Cargos Técnicos e de Gestão nas Confederações Brasileiras”, de 2021, que, em esportes como Basquete, Futebol, Handebol, Pólo Aquático, Rugby, Vôlei e Vôlei de Praia, mulheres ocupam apenas 9,2% dos cargos nas principais entidades de administração.
Assim, é essencial destacar profissionais como Moara Miranda, especialista em Eventos Esportivos com vasta experiência na gestão de grandes eventos como as Olimpíadas do Rio 2016, a Copa do Mundo feminina de 2023 e a Copa América de 2024, realizada nos EUA. A baiana encontrou muitos desafios no início da carreira, como machismo e xenofobia. Ainda assim, conquistou espaço e reconhecimento em um meio dominado por homens.
Com uma graduação em Administração de Empresas e um MBA em Marketing, além de diversos cursos de aperfeiçoamento no exterior, ela tem se destacado por sua capacidade de liderança e execução. “Eu quero sempre mostrar a minha capacidade. Já lidei com muitos comentários preconceituosos, sempre com aquela conversa de baiano ser preguiçoso. A gente quebra esse estigma com trabalho, mostrando o nosso valor. Minha mensagem pros baianos é que se capacitem, aprendam outros idiomas, corram atrás dos seus sonhos. Somos diferenciados e temos um potencial imenso”, comenta.
De forma inusitada, sua carreira teve início em 2013, quando foi contratada para ser motorista da FIFA na Copa das Confederações. Seu talento para resolver problemas a levou a ser convidada para o processo seletivo de Marketing da Copa do Mundo. Assim, ainda em 2013, foi contratada para ser Coordenadora de Marketing da Copa do Mundo da FIFA de 2014, tendo a organização do Sorteio da Copa do Mundo em Costa do Sauipe como primeiro desafio na função, após esse evento pode focar no planejamento para a Copa em Salvador, mostrando seu talento e dedicação.
Em 2016, outra conquista: Moara foi Venue Operations Manager nos Jogos Olímpicos do Brasil, trabalhando primeiramente no Parque Olímpico de Deodoro e depois no Velódromo do Parque Olímpico da Barra. Na função, era responsável por gerenciar as operações dentro da sede , assegurando o alinhamento entre todas as Áreas Funcionais , atuando como facilitadora para que as mesmas pudessem atingir seus objetivos. O foco principal era garantir a segurança dos clientes e demais envolvidos.
Moara também foi Gerente de Logística nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018 em Buenos Aires, gerenciando o primeiro Parque Urbano do IOC em Puerto Madero. Com competência mais que comprovada, ela foi convidada pela Conmebol para ser Venue Manager em competições como a Conmebol Sul-Americana e a Libertadores em 2019, trabalhando com clubes como Bahia, Flamengo, Boca Juniors, Corinthians e Palmeiras. Seu trabalho envolve principalmente ações de marketing e broadcasting, além de manter um relacionamento próximo com clubes, patrocinadores e emissoras de TV, visando a melhor transmissão possível do produto. Foram 4 anos dedicados ao projeto.
Além disso, desde 2020 vem trabalhando como consultora em Gestão de Projetos Esportivos, com foco em planejamento, operação e legado. Essas experiências prepararam Moara Miranda para um marco na carreira: ser Gerente de Operações para convidados da FIFA na Copa do Mundo feminina de 2023, sediada na Austrália e Nova Zelândia. “Trabalhar na Copa foi um ponto muito alto, era um sonho que eu tinha e fiquei muito feliz de tornar realidade. Eu que até os 15 anos joguei futebol e cresci sem ídolos femininos na modalidade, pude viver a emoção de estar em um Mundial e testemunhar o crescimento e fortalecimento da modalidade.O futebol feminino tem se desenvolvido cada vez mais e contribuir em seu maior evento foi muito gratificante”, destaca a gestora.
A fala de Moara entra em acordo com os dados divulgados pela Fifa. A última Copa do Mundo feminina foi a mais assistida da história, com transmissão em todo o mundo para mais de dois bilhões de pessoas. Além disso, quase dois milhões de pessoas acompanharam o evento in loco, estabelecendo um novo recorde. “Na Copa passada já foi possível observar a quantidade de patrocinadores chegando. Durante muito tempo não havia nem transmissão na TV, hoje já tem, assim como o Brasileirão. É um sinal de que esse produto está crescendo, ganhando público, com potencial para inspirar muitas meninas”, completa.
Neste ano, a baiana participou da inspeção realizada pela FIFA na Arena Fonte Nova, que tinha como intuito avaliar as condições do Brasil para ser sede da Copa do Mundo Feminina em 2027, apresentando a Arena e explicando a operação durante a Copa do Mundo de 2014. O Brasil foi o vencedor da disputa. Mais recentemente atuou como Venue Accommodation Manager na Copa América 2024, nos Estados Unidos. Com essa experiência foi possível entender o fluxo completo de um cliente tão importante como o atleta, desde sua chegada ao país, até o fim da partida e retorno para o hotel.
O fato de ter trabalhado em áreas diferentes em sua carreira fez com que atendesse e conhecesse as operações de todos os clientes de um grande evento esportivo: Atletas, Convidados VIPs ou Dignitários, Imprensa, Emissoras de TV, Patrocinadores, Espectadores e equipe de trabalho, dando a ela uma visão macro e estratégica do projeto, o que lhe permite planejar de maneira integrada, focando no resultado a ser alcançado.