(nativanews)
“Com a vinda das usinas hidrelétricas na nossa região houve uma desestruturação do nosso setor, e isso vem causando um impacto negativo na nossa realidade turística”.
Com um conjunto de três hidrelétricas a serem construídas na Bacia Hidrográfica do Rio Teles Pires, os municípios de Alta Floresta e Paranaíta são os principais a sentirem os impactos socioeconômicos destas obras. A primeira obra teve início em 2011, todo o planejamento necessário foi realizado com obras de compensação baseados no RIMA – Relatório de Impacto Ambiental. O aumento de população flutuante foi previsto, assim como o aumento na demanda da saúde, educação e habitação dos municípios diretamente afetados. Apesar dos esforços dos empreendimentos, os comércios de diversos segmentos, também “sentem” a sua presença.
Um dos pontos positivos reforçados na região com a chegada dos empreendimentos é o potencial turístico, com foco para a pesca esportiva que movimenta algumas pousadas às margens do rio Teles Pires, frequentadas por turistas, que vêm principalmente do Sudeste do país, e este é um dos setores que agora sentem a maior perca.
A segunda grande obra hidrelétrica teve início em 2015, a UHE São Manoel que é construída no curso médio do rio Teles Pires, na divisa entre os estados de Mato Grosso e do Pará. A represa a ser formada pela barragem se estenderá por 40km, terminando no local onde está construída a barragem da UHE Teles Pires. Neste intervalo entre barragens, área da futura represa, existem três pousadas a Thaimaçu Sete Quedas, a Portal da Amazônia e a Mantega, que empregam cerca de 43 pessoas cada. Empresas do ramo do turismo de pesca, que deverão deixar de existir neste local.
“A pousada Mantega está hoje, em processo de mudança, devido a questão da usina, o posicionamento da usina, então a pousada vai deixar o ambiente em que ela está, ela não está fechando, não está se desfazendo, o que está acontecendo é que decorrente da questão das usinas hidrelétricas nós fomos obrigados a estar em outro ponto”, declarou o responsável pelo departamento de marketing da pousada, Marcelo Moreira Bazílio, destacando que no último dia 26 (sábado) toda a estrutura da pousada foi posta a baixo, restando apenas o espaço limpo onde era instalada.
A construção destas hidrelétricas causam polêmicas em todos os locais onde são instaladas, Alta Floresta e região não é exceção. Os impactos ambientais são os mais visados, e principais pontos de preocupação destes empreendedores, mesmo com estudos apontados no RIMA e Programas de Compensação, manifestações acontecem com frequência, principalmente da população indígena, que é uma das mais afetadas.
“Saber que a gente iria sair do local, isso já estava certo, o que nós não esperávamos, é que fosse dessa maneira tal como aconteceu”, pontua Bazílio, destacando que o prazo inicial para a retirada da estrutura era para Março de 2017, e que, com a alegação do prolongamento do período de estiagem em 2016, o prazo foi adiantado para 20 de Outubro de 2016, a pousada então, conseguiu na Justiça, o prolongamento de 30 dias neste período sob pena de multas diárias, caso o prazo de retirada da estrutura não fosse cumprido.
O Turismo da Pesca movimenta, de forma indireta, a economia local, entre as pousadas instaladas no ponto de alagamento a Pousada Mantega é a mais afetada, pois a sua estrutura teve que ser totalmente removida, deixando de atender por um período aproximado de sete meses até que seja reestruturada, a economia local fica comprometida. De acordo com o gerente operacional da Mantega, Deusvaldo Nunes da Rocha, a pousada recebia cerca de 70 turistas por mês, movimentando os mais diversos segmentos do comércio.
“Destes 15 anos que a pousada vem atuando na região de Paranaíta e também em nosso município de Alta Floresta, entendendo que aqui é um polo receptivo, a pousada tem um investimento muito alto e utiliza de muitos recursos da nossa região. Falar de impacto, o que ela vai causar em nossa economia local, isso realmente vai ter um ponto negativo que só vai ser realmente sentido com a falta destas empresas atuando no setor. Por pesquisas realizadas recentemente, a gente movimenta uma economia muito forte, seja na parte de negócios com a vinda de turistas, também com a questão de serviços oferecidos”, destaca Bazílio.
A questão de serviços apontada pelo responsável de marketing da pousada é entendida como a mão de obra local, postos de combustíveis, hotéis, restaurantes, oficinas para manutenção de motores e também dos veículos da empresa, que agora, sem atendimentos, deixam de ser utilizados.
Com a fauna e a flora diretamente afetados, Bazílio finaliza. “Hoje essas pousadas, tanto as pousadas de pesca como estas que estão surgindo, pequenos pesqueiros e também observação de aves, são potenciais turísticos de nossa região que vem tendo grande relevância, com a vinda das usinas hidrelétricas na nossa região houve uma desestruturação do nosso setor, e isso vem causando um impacto negativo na nossa realidade turística. Claro que de benefícios para a sociedade, as usinas têm feito o possível e o impossível para poder estar implantando os seus trabalhos, desenvolvendo dentro da nossa região, porém o que anda acontecendo ultimamente é o oposto do que nós empresários esperamos”.