A Polícia Federal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) detalharam, esta manhã, a fase dois da Operação Hermes deflagrada hoje, com cumprimento de 29 mandados de buscas e apreensões em Cuiabá, Alta Floresta, Peixoto de Azevedo, Poconé, Cáceres, Pontes e Lacerda, Nossa Senhora do Livramento e Nova Lacerda, além de buscas no Amazonas, São Paulo e Rio de Janeiro. Conforme a investigação, o esquema criminoso utilizava uso do elemento químico (mercúrio) contrabandeado para práticas de garimpo, principalmente na Amazônia, e contava com financiadores e compradores. Foram decretadas pela Justiça sequestro e indisponibilidade de bens dos investigados em mais de R$ 2,9 bilhões, com o objetivo de reparar os danos ambientais causados. As fianças foram definidas em 200 salários mínimos.
O delegado e chefe da delegacia de Polícia Federal de Campinas (SP), Edson Geraldo de Souza, a segunda fase foi deflagrada após 10 meses de investigação a partir de elementos colhidos na primeira fase. “Começamos a investigação em 2022 com informação sobre o uso incorreto de uso de crédito de mercúrio no sistema federal e isso nos levou a uma empresa em Paulínia (SP). Essa empresa era uma recicladora de mercúrio, já não funciona mais. Ou seja, comprava produtos que continha mercúrio e extraia esse mercúrio”.
De acordo com Edson, a empresa inicialmente investigada apresentava quantidade de mercúrio incompatível. “Só existem duas formas de conseguir mercúrio no Brasil, pela reciclagem de produtos e outro pela importação. A quantidade de reciclagem que essa empresa dizia fazer, ou seja, a quantidade de equipamentos ou lâmpadas ou qualquer equipamento que continha mercúrio, era completamente incompatível com o volume de mercúrio comercializado a partir dela”, explicou.
Ele afirmou que a polícia chegou a pedir a prisão dos envolvidos nesta fase, entretanto, a fim de angariar provas mais robustas, foram autorizados mandados de buscas e apreensões. “Representamos pela prisão de vários dos investigados, mas chegou um consenso entre Ministério Público Federal e Justiça Federal, e também concordamos, considerando que além da prisão, teria que acelerar toda análise do material que já gastamos 10 meses para analisar o material da primeira fase, isso se tornaria inviável para cumprir os fundamentos legais das prisões. Considerando as milhares de fontes que temos para analisar pericialmente e depois do aspecto policial no entendemos que as prisões não seriam viáveis no momento”, disse.
O delegado coordenador da operação, Dalton Marinho Vieira Junior, alegou esquema funcionava com “empresas de São Paulo esquentando esse mercúrio via documento, todavia mercúrio entrando via fronteira. Identificamos em Mato Grosso responsáveis para distribuição deste mercúrio, que denominamos de sócios e financiadores. Os volumes transacionados são tão grandes que, às vezes, o principal investigado e seu sócio não havia montante suficiente para investimento na quantidade de mercúrio disponível para vender aos garimpos”, afirmou o delegado.
Segundo Dalton, eles buscavam financiadores para fazer com que a máquina da organização girasse para compra de mais mercúrio ilegal. “O objetivo seria não deixar a roda parar de girar. Assim pegavam dinheiro emprestado a juros atrativos, por isso muitas pessoas entraram no esquema. Pagar 10% a 15% por mês, não há investimento no mercado que consiga pagar isso. Esse foi o modus operandis dos financiadores, então a gente passou a ter também alguns operacionais que são funcionários desse grupo criminoso, que são aqueles responsáveis por carregar esse mercúrio, vender, aquilo que a gente fala de fazer o corre”.
Ainda de acordo com Dalton, parte dos compradores finais do mercúrio ilegal no esquema criminoso é de “grandes mineradoras” de ouro do país. “Estamos falando das maiores mineradoras do Brasil. Mineradoras que chegam a produzir mais de uma tonelada de ouro anual e que compram esse mercúrio ilegal. Temos mineradoras que os sócios são Forbes Brasil”, explicou o delegado.
“As mineradoras (de ouro), sejam as que têm licença ou os garimpos ilegais que não têm licença, estavam utilizando mercúrio de contrabando ou aproveitando o mercúrio vindo de alguns processos de reciclagem. Considerando que praticamente não existe mais mercúrio legal no Brasil, ou seja, mercúrio importado, há fortes evidências que quase todas as atividades minerais de ouro do país operam com mercúrio ilegal, que vai impactar o meio ambiente”, disse o diretor de proteção ambiental do Ibama, Jair Schimitt.
Só Notícias/Kelvin Ramirez (foto: assessoria)