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Soterrados: 28 trabalhadores morreram em silos nos últimos 3 anos em MT

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Por: Helena Corezomaé/PrimeiraPaginaMT

Maior produtor de grãos do país, Mato Grosso também é o estado com maior número de mortes em silos

Osmar Baldani de Freitas, de 53 anos, sempre trabalhou na roça, mas quando faltava dinheiro buscava outras atividades fora do sítio, que fica em Marcelândia, a 717 km de Cuiabá, para ajudar na renda da família. Entre os trabalhos, carregava e descarregava caminhões, mas em 2017 recebeu uma proposta que mudou sua vida. 

Um dos proprietários de um armazém, a 13 km de Marcelândia, foi até sua casa e o convidou para trabalhar na limpeza de silos, que são grandes estruturas de metal construídas para armazenar grãos. Algo que nunca tinha feito, mas aceitou a proposta. 

Em 24 de maio de 2018, após alguns meses de trabalho, Osmar e outras três pessoas, entre eles seu irmão, estavam dentro do armazém agrícola quando ele foi puxado, depois que um funcionário acionou o botão do equipamento, e teve parte de uma perna arrancada.  

“Estou vivo porque Deus colocou a mão. Perdi uma perna, ficou lá. Foi naquela rosca. Ela comeu a perna e se pega mais um pouco comia eu inteiro. O que eu falo para pessoas que trabalham em lugar assim é para ter muito cuidado, porque a vida ali se vai em um piscar de olhos”.  

O médico que o atendeu no município de Colíder, para onde ele foi levado e passou por cirurgia, disse a sua família que as chances de ele sobreviver eram poucas. Solange Benes, esposa de Baldani, lembra que a equipe médica ficou surpresa ao encontrá-lo vivo, no dia seguinte.  

“Ele me disse: ‘se você tem fé, você ora, pede a Deus, porque ele tem menos de 10% de chances de viver. O que a gente pôde, a gente fez’. No outro dia, vieram os médicos, chegaram desconfiados, e falaram pra ele, que eles não acreditavam que ele ia amanhecer vivo. Mas, para Deus tudo tem um propósito. Eu creio que Deus tem coisas maravilhosas para fazer em nossas vidas”. 

A recuperação de Baldani não foi rápida e ele precisou passar por outra cirurgia para ajustar o coto, membro residual que pode causar limitação, prejudicar a qualidade de vida e comprometer a reabilitação. O procedimento custou na época R$ 4.500,00, que foi pago pela empresa.  

Segundo a família, apesar de ele trabalhar desde novembro de 2017 no armazém, foi no dia do acidente que teve a carteira de trabalho assinada, mas foi preenchida com a data retroativa, de 2 de maio.  

“Vieram ‘correndo’ aqui em casa, pediram a carteira pra assinar e disseram que queriam o melhor pra ele”, disse a esposa Solange. 

Depois de recuperado, voltou ao armazém, mas após um ultimato de Solange ele pediu demissão. 

Ao Primeira Página, um dos proprietários da empresa disse que prestou todo atendimento necessário ao trabalhador.  

“Ele voltou para lá andando de muleta. Soldou um ferrinho na moto pra trocar a marcha na mão, e trabalhou por um tempo. Mas, falei pra ele, você escolhe, ou a sua família, ou o serviço. Porque pra você ganhar R$ 1.500,00 e gastar R$ 500,00 de despesa para ir e voltar, não serve”.   

“Chamei o patrão pra fazer o acerto. Ele falou pra mim que eu era louca, que não existia indenização. E se eu quisesse justiça, era pra procurar”. E foi isso que Solange fez. 

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