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Primeira medalhista da Índia sonha libertar mulheres e transformar o país

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(GE)

Após escrever o seu nome na história como a primeira medalhista paralímpica da Índia nos Jogos do Rio, Deepa Malik espera transformar a sociedade. Pioneira no atletismo em um país marcado pelo machismo e o preconceito contra a mulher, a medalhista de prata no arremesso de peso F53 (atletas em cadeira de rodas) luta por direitos iguais e inspira outras indianas a irem em busca de seus sonhos. Nascida em Bangalore e radicada com o marido e as duas filhas em Nova Déli, a lançadora praticou natação profissionalmente até 2009, gosta de motociclismo nas horas vagas e sempre usou o esporte como um meio de derrubar estereótipos em sua terra natal. Empoderar e trazer mais liberdade para as mulheres é uma de suas maiores missões depois de competir no Estádio Olímpico. Com o prêmio de US$ 75 mil (R$ 246,4 mil) como recompensa do governo indiano, ela planeja investir no esporte, detectando e lapidando talentos.

– Eu espero quebrar este estereótipo de gênero. Nós, mulheres, não seguimos os nossos sonhos e nos damos a oportunidade de ir em busca de nossas paixões. O esporte me deu tanto. Me deu uma identidade. Me deu um nome, fama e um sonho a perseguir, uma voz para ganhar força, e eu acredito que eu deva retribuir tudo isso criando espaço para outras meninas treinarem. Dar a elas um lugar seguro, como um refúgio, para elas passarem o tempo e treinarem – contou Deepa. 

O preconceito é um reflexo de uma sociedade com tradição patriarcal. Mais de 100 milhões de mulheres foram mortas ou desapareceram no país, vítimas de discriminação. Estima-se que dois milhões de indianas morrem anualmente, seja na fase adulta (45%), na juventude (18%), na infância (25%) ou no nascimento (12%), sendo 100 mil devido a queimaduras, boa parte delas com relação ao dote matrimonial. Muitas vezes, elas sequer nascem, por conta de abortos assassinato de recém-nascidas. Apesar de o governo prometer medidas mais duras para conter a violência contra as mulheres, os estupros e até mesmo os sequestros são frequentes. 

Nós, mulheres, não seguimos os nossos sonhos e nos damos a oportunidade de ir em busca de nossas paixões. O esporte me deu tanto. Me deu uma identidade. Me deu um nome, fama e um sonho a perseguir, uma voz para ganhar força, e eu acredito que eu deva retribuir tudo isso criando espaço para outras meninas treinarem. Dar a elas um lugar seguro, um refúgio”
Deepa Malik

Alguns livros hindus, como o Leis de Manu, pregam que o gênero feminino não está apto a ter independência em qualquer esfera da sociedade e vê a mulher como um instrumento de posse de seus pais, maridos ou filhos (idade adulta). Com as dálits, que ocupam o nível mais baixo do sistema de castas na Índia, o preconceito é ainda maior.

Entretanto, aos poucos, a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres ganha força no país. O esporte paralímpico ainda está em uma fase embrionária na Índia, porém, Deepa Malik espera que a sua conquista na Rio 2016 seja um divisor de águas.

– Todas as atividades que eu pratico ajudam a transmitir a mensagem de que a habilidade supera a deficiência. Quero mudar este estereótipo de que as pessoas têm dos atletas deficientes. Foi graças à minha deficiência que eu pude conhecer o esporte. Estou feliz por estar em uma cadeira de rodas e conquistar a primeira medalha para uma mulher nos Jogos – revelou.

Em um país com mais de um bilhão de habitantes, quase 650 milhões são mulheres, mas, com o pouco incentivo, nenhuma havia alcançado o pódio em uma Paralimpíada. Malik busca ser um modelo para as atletas na Índia. E sabe que a medalha é um passo de um longo caminho.

– Eu poderia fazer muito pelo meu país agora. Eu posso quebrar recordes, ser um modelo para transformar mentes, mudar a minha Índia e empoderar as mulheres por lá – contou a indiana.

Deepa Malik Índia atletismo arremesso do peso Paralimpíada Rio 2016 (Foto: AP)Descrição da imagem: Deepa Malik anda de cadeira de rodas pelo Estádio Olímpico, com a bandeira da Índia (Foto: AP)

Deepa teve um tumor na coluna aos seis anos, passou por uma cirurgia de retirada e se curou. Mais de 20 anos depois, em 1999, os médicos perceberam o reaparecimento do câncer. A indiana precisou se submeter a três cirurgias na espinha dorsal, o que causou a paraplegia. Quando acordou, após levar 183 pontos nas costas e viu que teria de reaprender a viver. Foram quase dois anos para saber como sentar ou andar. Perdeu os movimentos das pernas, mas não queria que os outros a considerassem uma pessoa fraca ou dependente.

Aos 30 anos, ela descobriu o paradesporto e se encontrou como atleta na natação. Em 2009, migrou para o atletismo e começou a praticar arremesso de peso e lançamento de disco e dardo. Graças ao investimento do governo indiano, algo recente para atletas com deficiência, Malik pôde alcançar a façanha no Rio. Hoje, se sente realizada por estar em uma cadeira de rodas e ter a chance de viajar o mundo através do esporte. Seja nas piscinas, nos ralis ou nas pistas, Deepa tornou-se uma referência. O próximo passo é libertar outras mulheres.

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