Na terça-feira (4), 12 suspeitos de envolvimento no esquema foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de organização criminosa e peculato
Ao longo de 20 meses de trabalho, as equipes do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) descobriram esquema de corrupção dentro da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul) e flagraram, por mais de uma vez, os integrantes irem ao banco para sacar dinheiro da conta da entidade.
Na terça-feira (4), 12 suspeitos de envolvimento no esquema foram denunciados pelo Ministério Público pelos crimes de organização criminosa e peculato. A denúncia foi encaminhada à Justiça, que agora decide se transforma os doze investigados em réus, a partir das acusações e provas apresentadas pelo Gaeco.
Confira os nomes dos investigados:
- Francisco Cezário de Oliveira
- Aparecido Alves Pereira (irmão de Cezário)
- Francisco Carlos Pereira
- Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira
- Umberto Alves Pereira (irmão de Cezário)
- Valdir Alves Pereira (irmão de Cezário)
- Rudson Bogarim Barbosa
- Jamiro Rodrigues de Oliveira
- Marco Antônio Tavares
- Marcos Paulo Abdalla Tavares
- Marcos Antônio de Araújo
- Luiz Carlos de Oliveira
Dos doze nomes, sete estão diretamente ligados a Cezário e era para o bolso deles que o dinheiro desviado da Federação ia após ser sacado, identificou a investigação.
Segundo as investigações, Cezário estaria desviando valores da FFMS, da qual é presidente, contando com o auxílio de Marco Antônio Tavares (Marquinhos), vice-presidente da entidade e proprietário da empresa MTAVARES EVENTOS, entre outros agentes não identificados.
A FFMS nos últimos 15 anos R$ 11,5 milhões de verba pública, somente por meio de convênio com a Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul). Desse total, R$ 3,2 milhões foram repassados apenas nos últimos três anos. Apesar dos repasses de verba pública terem crescido nos últimos anos, a FFMS fechou um déficit em 2023 de R$ 218 mil e tinha apenas R$ 23 mil em caixa.
Cezário foi reeleito em eleição antecipada para o dia 4 de junho de 2022, para a presidência da FFMS, pelo 7º mandato seguido, cargo que ocupa desde 1998, aparentemente em desacordo com a Lei 9.615/1998 (Lei Pelé), que dispõe que o presidente ou dirigente máximo tenha mandato de até 4 anos, permitida uma única recondução.
O início das investigações
Já nas diligências iniciais, os policiais do Gaeco levantaram que Aparecido Alves Pereira (Cido), Marcelo Mitsuo Ezoe Pereira e Umberto Alves Pereira (Beto), todos parentes (Umberto é pai de Marcelo e irmão de Aparecido), faziam frequentes saques em espécie de contas bancárias vinculadas à FFMS, em valores não superiores a R$ 5.000, que depois eram divididos entre os integrantes do esquema, sempre com anuência de Cezário. No dia 25 de outubro de 2022, quando a FFMS figurou como parte beneficiária de dois termos de fomento, Umberto saiu da sede da Federação de Futebol, onde estavam lhe aguardando Aparecido, Francisco Carlos Pereira (irmão de Cezário) e Marco Antônio Tavares (vice-presidente da FFMS).
As investigações também revelaram uma série de reuniões na residência de Cezário na segunda quinzena de setembro de 2022, com a presença dos irmãos Aparecido e Francisco Carlos Pereira, e Umberto Alves Pereira, quando se reuniram para dividir o dinheiro desviado da FFMS. Valdir Alves Pereira, outro envolvido no esquema, também esteve presente nas reuniões realizadas nos dias 20, 21 e 22 de setembro de 2022.
Os envolvidos não tinham folha de ponto nem horário de serviço determinado. Cada um trabalhava apenas para garantir seu ganho e de seus familiares, mantendo o esquema em funcionamento e subtraindo dinheiro da entidade, que a cada ano ficava mais deficitária, apesar da alta receita.
As provas do Gaeco
O Gaeco, através de escutas telefônicas, quebras de sigilo bancário e fiscais dos investigados, descobriu que Cezário e os parentes agiam associados desde o início de 2018, estruturalmente ordenados e com divisão de tarefas, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagens patrimoniais indevidas da FFMS, principalmente dos recursos obtidos junto ao governo do estado, mediante a prática de peculatos, furtos qualificados, falsidades e lavagem de dinheiro.
Esse dinheiro, que deveria ter sido usado para promover a melhoria do futebol estadual, era pulverizado em contas dos investigados em depósitos pequenos para não chamar a atenção das autoridades. Em seguida, eram feitos saques em valores até R$ 5 mil para evitar o rastreio de órgãos de controle financeiro, como o COAF.
Para justificar as despesas, eles fraudavam documentos. Chegou ao ponto de os investigadores encontrarem na sede da federação 189 carimbos com dados de hotéis e restaurantes do estado, usados para fraudar orçamentos.
Cezário também combinava com hotéis e fornecedores da federação para emitirem notas com serviços a mais, que não eram realizados. A diferença, segundo o Gaeco, ficava para o grupo criminoso. Pagamentos de despesas pessoais de Cezário e dos vice-presidentes, como viagens de turismo e assistência médica, também eram pagos com dinheiro da federação.
Fonte – Primeira Pagina/MS